Enquanto eles comemoram com grande festa,
recolho-me ao medonho reino que me resta,
pois habito agora um mundo melancólico,
um espaço físico apenas simbólico,
envolvido num plano diabólico,
engendrado em movimento hiperbólico,
disfarçado em cenário quase bucólico,
mas lôbrego pais de funestas noites,
faz sofrer sob golpes de vis acoites,
trazendo sempre aberta as cicatrizes
causadas pelo látego dos infelizes.
Vivo em meio aos miseráveis condenados
no silêncio dos vales da terra mais profundos
sentindo sobre o corpo em chamas derramados
o ferro em brasa e líquido enxofre nauseabundos.
Estou entre eles, forçados a dobrar a cerviz,
submeter-se aos poderosos, à escravização da alma;
clamo em vão nos desertos deste mundo infeliz,
mas forçado a interiormente trazer uma aura calma
moribundo no seio deste planeta selvagem,
sentenciado a prestar eterna vassalagem.
E condenado a perambular sem destino
neste infernal pais de hercúleo desatino,
a dor e a ansiedade sempre aumentam
mas aqui ninguém ouve os que se lamentam,
e então se perdem para sempre os gritos,
com milhões de vozes dos mesmos tristes ditos
e minhas pernas fraquejam, já não suportando mais
carregar minha carcaça sofrida junto aos demais.
by ArysG@iovani