Quase absurdo
Há vivencias que ganham no nosso sentir profundo lugar vitalício. Aconteceu ontem quando visitava o lar da Misericórdia em Amarante. Ambiente festivo e conta 92 anos a idosa Emília que ali nos leva com alguma frequência. Para podermos conviver com ela de maneira capaz, afastamo-nos um pouco do salão de festas cujo clima apesar da alegria, nos invadia os poros da alma em flocos de uma nostalgia acre, não nos poupando a reflectir na inevitável estrada da vida. Aconteceu que quando nos preparávamos para a despedida e como que adivinhando o nosso estado de alma, somos surpreendidos com uma melodia e canto que de tal modo nos arrebatam que exorcizam qualquer fresta nostálgica que pudesse ainda importunar-nos. Não logramos furtar-nos a um vago humedecer da retina, como que a dizer-nos que apesar de tudo e apesar do sofrimento e da consciência da transitoriedade da vida, há ainda um espaço para a esperança. Aquelas lagrimas, esconjurando qualquer pendor nostálgico, tiveram bem mais o sabor de um hino à vida.
Antonius