CINDERELA I
Jorge Linhaça
Vestida nos panos rotos da vida,
descansa a alma pura e singela.
Quem princesa reconhecerá nela,
em roupas de borralho travestida?
Quem pode ver a doçura contida,
em seus olhos, da alma a janela;
descobrir em seu peito a Cinderela,
por detrás da aparência sofrida ?
Quem, em seus pés, calçará o cristal,
em forma de sapatos esculpido?
Onde andará seu pretenso esponsal?
N'algum baile da vida perdido,
a buscar o amor, que num sarau,
deixou ficar o sapato esquecido.
CINDERELA II
Jorge Linhaça
Na carruagem dessa fantasia,
puxada por fadas e por corcéis,
deita-se a musa em seus dosséis,
em suaves sonhos de pura poesia.
O príncipe chega, em agonia,
seguido por empregados fies,
buscando encontrar os doces pés
que os sapatos vestiram um dia.
Por detrás da cinza que escurece,
a face divina da Cinderela,
os seus olhos tão doces reconhece
Desperta o amor: ali está ela!
Respondidas foram suas preces,
abertas são, do futuro, as janelas