Hoje quase acordei, depois de uma noite quase em branco, por mais escura que a noite tivesse sido, e deparo-me novamente com o domínio do teu fantasma a pairar sobre os meus pensamentos, sobre os melhores e sobre os piores.
Consigo quase sentir-te a penetrar-me a alma no meio desta guerra interior que me consome mas que sinto que hoje terá o seu fim. Nesta dor insana que tem hora marcada para o seu poético e quase épico final, neste pedaço de mundo no qual ainda coabitamos, o meu mundo, aquele que um dia foi o nosso mundo, cheio de esperanças e quase promessas de um futuro além-fronteiras dos muros da minha e da tua cidade.
Hoje serei mais leve, depositarei o teu peso no baú das recordações boas, lembrar-te-ei como sempre o quis fazer… Com aquele sorriso que só tinhas e que apenas tu o repartias comigo em igual parte, aquele abraço que me despiu de mascaras e muros na primeira noite, com aquele olhar que me desvendou e desarmou como mais nenhum outro fizera.
Consigo quase flutuar neste mar de lembranças agridoces, consigo remar por cima do turbilhão de sentimentos que ainda me transbordam e que medicamente estão controlados, quase domesticados. No meio deste entulho de coisas boas e más que partilhei contigo persiste o amor, aquele sentimento que despertaste em mim sem que eu sequer acreditasse nele, o sentimento que me acompanha dia e noite e que me atormenta e transforma todo o meu ser numa frágil e simples peça de vidro pronta a ser esmagada e estilhaçada pela tua gélida ausência.
Hoje deixarás de me pertencer, de pertencer ao cantinho especial que existe neste coração que outrora fora forte e impenetrável. Hoje deixarei de ser tua pertença, deixarei que as amarras deste sentimento se desprendam, que este nó se desfaça, mas que aquele laço perdure até ao fim dos meus dias.