Frases e Pensamentos : 

O ser das coisas, o dever-ser, o poder-ser e o querermos que sejam

 
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Em matéria de política, ciência, moral, religião, filosofia, direito, os problemas são muitas vezes transversais e não ajuda nada a metodologia de os isolar por disciplina.
Por exemplo, ainda a ciência está a braços com o problema da realidade natural e já não faltam cientistas interessados em dizer como as coisas devem ser, ou seja, ainda não resolveram o problema do ser e já pretendem ter resolvido o do dever-ser. Mas isto é compreensível. Toda a gente se acha autorizada a pronunciar-se sobre como as coisas devem ser, porque e enquanto não se souber o que as coisas são. Por outro lado, o saber-se o que as coisas são e como são não resolve o problema de como devem ou deviam ser. O problema que apoquenta é sobretudo este e não aquele. A realidade, a maior parte da vezes, ou não nos agrada ou , simplesmente, não nos interessa. Se nos agradasse ou simplesmente nos conformássemos com a realidade, nada teríamos a opor à doença e às nossas incapacidades.
Nós queremos que as coisas não sejam, simplesmente, como são. Por exemplo, se pudéssemos decidir sobre o modo como o mundo e a vida funcionam, quantos de nós acharia bem o sofrimento, a doença, a morte?... E a ciência está implicada nesta dinâmica. É acção, instrumentalização, tanto ou mais, do que investigação. É manipulação e "aproveitamento". A ciência funciona com objetivos e finalidades que não são simplesmente de conhecimento. Há um domínio que se exerce crescentemente com a noção de que esse domínio é possível, de que é possível levar a água ao moinho. As coisas, afinal, até podem ser como nós queremos que sejam.

O dever ser da moral não coincide necessariamente e pode até conflituar com o dever ser da religião e do direito e da ciência. O dever-ser, em qualquer caso, depara-se com o querer-que-seja.

De qualquer modo, nenhuma ciência e nenhum dever ser impede que, por nossa vontade, capricho, veleidade, ignorância, maldade, ódio, etc., desejemos ou queiramos outra coisa.
E é sabido que há quem prefira o vício à virtude, a morte à vida, a mentira à verdade, a injustiça à justiça, a destruição à construção.
Quanto a isto, a ciência não resolve nada, porque tanto serve uns como outros. Tanto serve os bons como os maus, os ditadores como os verdadeiros democratas, os torcionários sanguinários como os benfeitores humanitários...






 
Autor
Carlos Ricardo
 
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