Deixa-me ser menino de novo
soltar-me pelas decências da rebeldia moça
e pelas indecências também,
soerguer-me dos espaços verves de luz
e aninhar-me na essência da noite, outra vez
com os sentidos encarcerados nos braços
dardejando o olhar, franqueando caminhos
exaltados até às estrelas que refulgiam
ímpares, nas primícias da idade.
Deixa-me ser petiz, sibilino e dilema
viver os gestos no bulício manso da idade
arquear os desejos na inocência de os ter
e sair ileso, ressurgindo iníquo
como um animal arquejante
a aplacar as dores do nada.
Deixa-me ser criança, prostrada, tresloucada
ser a fraturante emoção
que a palavra abastardou
como néscios e párias
hiatos de um tempo a menear-se no ar
onde a palavra se fez homem
e quase se afeiçoou.
Deixa-me ser novamente o ausente que regressa
o olhar que enfeitiça e brilha
na afronta do tempo
arrastado pelas emoções que perduram
inebriadas com o fim da escuridão
entre vultos que nos seguem
pelo resto dos nossos dias.
Deixa-me ser criança de novo
e fazer meninices nos umbrais do tempo
abraçar os dias como uma mulher nua
enrodilhar-me nas tentações que embriagam
mas sempre com uma mão
na aduela da vida…