Cai a tarde num quadro fantástico.
O sol suspenso em nuvens de espumas
Faz ser espelho as águas do riacho
Beijado por plantas de espantosas verduras
Que exalam eflúvios balsâmicos e raros.
O horizonte em cirros de escarlates colorações
Servindo de fundo para o vôo em vértice das aves
Que num balé silencioso, levadas pelas monções,
Se vão a procura de campos floridos e suaves.
Chega a noite e um novo espetáculo se cria.
Agora dormitam alguns homens e borboletas.
No céu uma mão acende miríades de estrelas
Que em nada perdem para a beleza do dia.
Num quarto fechado desliga-se um chuveiro.
A meia-luz uma semi-deusa desponta no portal;
Caminha rumo à cama num desfile sensual
Fazendo um homem arrepiar o corpo inteiro.
Os cabelos molhados balanceiam e alguns pingos
Deixam cicatrizes provocantes no lençol.
Uma fêmea arrasta-se tal qual uma serpente do Saara
Mordendo fronhas e travesseiros.
Nesse instante o mundo todo para.
Para-se o mundo e o tempo.
Dois seres se perdem num jogo gostoso, entre beijos,
Libertando libidos e os mais reclusos desejos.
Sexos se amam e se violentam num vai-e-vem eterno.
Suores se mesclam com as essências soltas pelo ar.
Dois corpos se fartam e se matam na arte do amar
Tendo de testemunhas apenas as estrelas do universo.
Gyl Ferrys