Poemas : 

INSTANTES

 
Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.

Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.

Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade bem poucas coisas levaria a sério.

Seria menos higiênico.

Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.

Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da vida, claro que tive momentos de alegria.

Mas se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.

Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, não percas o agora.

Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas. Se voltasse a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono.

Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.

Mas já viram, tenho oitenta e cinco anos e sei que estou morrendo.


Jorge Luis Borges
( 24/08/1899 — 14/06/1986)
Autores Clássicos no Luso-Poemas

O escritor:

"Não criei personagens. Tudo o que escrevo é autobiográfico. Porém, não expresso minhas emoções diretamente, mas por meio de fábulas e símbolos. Nunca fiz confissões. Mas cada página que escrevi teve origem em minha emoção".

O escritor Jorge Luis Borges nasceu na capital argentina, Buenos Aires. Bilíngüe desde a sua infância, aprendeu a ler em inglês antes que em castelhano, por influência de sua avó materna de origem inglesa.

Aos seis anos disse a seu pai que queria ser escritor e aos sete escreveu, em inglês, um resumo de literatura grega. Aos oito, inspirado num episódio de "Dom Quixote" de Cervantes, fez seu primeiro conto: "La Visera Fatal". Aos nove anos, traduziu do inglês "O Príncipe Feliz" de Oscar Wilde.

Em 1914, devido à quase cegueira total, seu pai decide passar uma temporada com a família na Europa. Em Genebra, Jorge escreveu alguns poemas em francês enquanto estudava o bacharelado (1914-1918). Sua primeira publicação registrada foi uma resenha de três livros espanhóis para um jornal de Genebra.

Em 1919, mudou-se para a Espanha e publicou poemas e manifestos na imprensa. Em 1921, retornou a Buenos Aires e redescobriu sua cidade natal, na efervescência dos anos 20. Nesse clima escreveu seu primeiro livro de poemas, "Fervor em Buenos Aires", publicado em 1923.

A partir de 1924, publicou algumas revistas literárias e, com mais dois livros, "Luna de Enfrente" (poesia) e "Inquisiciones" (ensaios), ganhou em 1925 a reputação de chefe da jovem vanguarda de seu país. Nos anos seguintes, ele se transformou num dos mais brilhantes e polêmicos escritores da América Latina.

Inventando um novo tipo de regionalismo, acrescentou uma perspectiva metafísica da realidade, mesmo em temas como o subúrbio portenho ou o tango. Nesta fase escreveu "Cuaderno San Martin" e "Evaristo Carriego". Mas logo se cansou desses temas e começou a especular sobre a narrativa fantástica, a ponto de produzir durante duas décadas, de 1930 a 1950, algumas das mais extraordinárias ficções do século, nos contos de "Historia Universal de la infâmia" (1935); "Ficciones" (1935-1944) e "El Aleph" (1949), entre outras.

Em 1937, Borges foi nomeado diretor da Biblioteca Pública Nacional, o que foi seu primeiro e único emprego oficial. Saiu nove anos depois, indignado com a inclinação fascista que estava tomando a Argentina.

No que se refere ao amor, o caso mais quente do escritor argentino foi com Estela Canto, que depois lançou o livro de memórias "Borges a Contraluz". Ele conta em sua biografia que a pediu em casamento. Moderna e liberada para a época, Estela respondeu: "Eu aceitaria, Georgie, mas não podemos casar sem antes dormir juntos". Borges ficou assustado e desapareceu.

Aos 50 anos, o escritor já havia perdido parcialmente a visão. Com o passar dos anos, quando a cegueira se fez completa, sua mãe, Leonor, passou a cuidar dele, lendo e escrevendo o que ditava.

O reconhecimento literário de Borges se solidificou em 1961 com a conquista do prêmio concedido pelo Congresso Internacional de Editores, que dividiu com Samuel Beckett. Logo receberia também prêmios e títulos por parte dos governos da Itália, França, Inglaterra e Espanha.

Em 1967, Borges casou-se com uma amiga de infância, Elsa Astete. O casamento durou três anos e acabou com Borges fugindo de casa, sem coragem para discutir a separação. Sua mãe, Leonor, morreu em 1975. Seu segundo casamento foi com a sua ex-aluna Maria Kodama que se tornou sua secretária particular em 1981. Kodama era de origem japonesa e tornou-se a herdeira de seus direitos autorais.

Em 1983, Borges publicou no diário "La Nación" de Buenos Aires o relato "Agosto 25, 1983", em que profetizava seu suicídio. Perguntado depois porque não havia se suicidado na data anunciada, respondeu: "Por covardia". Borges afirmava freqüentemente o seu ateísmo e falava da solidão como uma espécie de segunda companheira.

Fonte:http://educacao.uol.com.br/biografias/jorge-luis-borges
 
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Jorge Luis Borges
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/11/2012 12:05  Atualizado: 23/11/2012 12:09
 Re: INSTANTES
Esse é um dos textos do Borges mais popularmente conhecido. Quase imediatamente lembro-me da canção “Epitáfio” dos Titãs (Sérgio Britto). A intertextualidade entre as obras é um modo interessante de entender de que forma os textos “conversam” entre si, e que afinal , está tudo aí, os temas, as palavras, que os bons poetas, músicos e escritores reorganizam em novas e belas mensagens. Laurent Jenny dirá que “Fora da intertextualidade, a obra literária seria muito simplesmente incompreensível” (JENNY, 1979, p. 5). Dominique Maingueneau explica a intertextualidade considerando os conceitos fundantes da análise do discurso como sendo (...) conjunto das relações explícitas ou implícitas que um texto mantém com outros textos. (MAINGUENEAU, 2006, p. 87).
Esse exercício de intertextualidade é uma maneira interessante para quem quer fazer poesia. Mas sem incansável leitura, nada é possível.
Para lembrar, “Epitáfio:

O acaso vai nos proteger!

Abraços à todos,

Sandra.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/11/2012 13:44  Atualizado: 23/11/2012 13:44
 Re: INSTANTES
Muitas vezes nos vem aquela sensacao de querer "reescrever"
a vida.
No entanto, cada um tem uma diferente historia.
Muitas vezes chego a querer apagar um monte de coisas, viver
de novo e fazer tudo diferente.
E vejo que quando chegar nos 85...vou me sentir exatamente como
ele escreveu.
Passamos a vida tentando mudar tanta coisa...quanto tempo perdido!
~Mary~
PS: Outro dia estava pensando, que nao quero chegar a ficar doente,
para apreciar a vida.

Enviado por Tópico
rosafogo
Publicado: 23/11/2012 15:58  Atualizado: 23/11/2012 15:59
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 Re: INSTANTES
Depois de ler este texto, acredito que a felicidade da minha infância não
é imaginária, foi bem real, aproveitei cada momento, andando descalça, nadando no rio, brincando na rua...etc.
Depois a vida trouxe algumas responsabilidades, alguns dissabores, vida tão igual à de tantos, hoje ainda gosto de ir à aventura pegar autocaravana e seguir sem rumo, e viajar quanto posso, amo a liberdade, mas se voltasse atrás faria mais loucuras sem dúvida, nisso estou com o Poeta.

meu abraço