Há dias em que os dias não passam.
E quando vemos pra fora de nós
Já passou tempo demais.
Já as horas foram;
Passadas e antigas,
Gastas no tempo de não as ver passar.
E então despertamos para o olhar
Essa sede de querer ter passado nelas,
E de as não ter deixado cair
Assim pelo asfalto;
E de as não ter deixado em vão passar,
Pelo nosso corpo
Que teima em fazer-se
Mais velho que nós;
E em desfazer-se,
Mais fácil que os nós
Que temos no nosso cérebro.
E se eu soubesse ontem
O que hoje sei!
Tomara não ter escolhido o caminho só de passar;
E ter escolhido
O caminho em que há rosas
E de as ter colhido
Às mais belas só pra te dar.
Tomara que eu o tivesse escolhido!
E que fosse eu outro hoje;
E que sabendo o que só agora sei,
Fosse diferente do que sou...
Porque se soubesse que seria
O que hoje sou,
Não teria sido o que ontem fui;
Para poder dizer amanhã
Que fui coisa diferente de ti.
Que te colhi rosas,
Que tu me deste
Para eu me pudesse picar nelas;
As horas em vão que eu passei
Olhando para o ar.
Porque os espinhos das rosas
São como as horas da vida.
As horas que fiquei a ver passar no vazio
Dos minutos que deixei deitados;
Na preguiça de me levantar...