( Conto )
CAPT 1
Naquele dia ela parecia contente.
Saiu ainda cedinho pela rua. O dia acabara de nascer.
Não levara documento algum.
Apenas a vontade de caminhar sem rumo certo.
Precisava disso. Era assim que clareava seus pensamentos e tomava decisões.
Maribel não tinha olhos cor do céu, como na canção. Mas 'terrivelmente' expressivos!
Neles, se liam sua alma. Nada escapava...
Maribel conheceu Jairo nesse dia que mal saia da noite: Ele caminhava cabisbaixo, rosto contraído, esbarrou...
E na troca de olhares, fez-se a 'magia'. Dessas que ninguém vê, hoje em dia.
Tão difícil é acreditar nisso!
Amor à primeira vista... Até o termo diria-se hoje, é ultrapassado.
Mas acontecia, naquele dado momento para os dois.
Não interessava passado, nomes, profissão, religião ou qualquer que fosse rotulada pela sociedade.
_ Desculpe-me, moça. Ando tão desastrado ultimamente...
_ Não tem nada. Eu também estava aérea, não prestava atenção.
_ Sendo assim, estamos quites.
Disse, exibindo um largo sorriso para Maribel.
Ela retribuiu prestando bem atenção que o sorriso dele era realmente encantador...
Atrás deles estava um banco de madeira rústico, feito de um corte em tronco de árvore. Ele a convidou para sentar ali e conversar um pouco. Maribel assentiu.
Sem perceberem, uma hora se passou. Somente quando o celular dela tocou, soube disso.
Ela tinha deixado lembrete para seus afazeres.
Jairo deu-lhe seu número para que anotasse na sua agenda do celular e copiou o dela também.
Apertaram as mãos e despediram-se enfim. Mas não sem antes ficar certo que ligariam um ao outro para marcar um passeio juntos.
Esse foi o primeiro dia de um amor que duraria para sempre, mesmo estrelas distantes, se encontram em algum ponto lá no céu...
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CAPT 2
Era um livro perdido na estante agora.
Cerca de mais de mil títulos ali estavam.
Um candeeiro comprado na feira de antiguidades, iluminava a mesa tão antiga, quanto ele.
Mapas, canetas, blocos de anotações... Tudo devidamente organizado.
Um toque de séculos passados, cheiro de papel amarelado do tempo...
Devia ser um lugar especial para ele.
Na verdade, não era mais...
Ali, naquela mesma biblioteca particular, ele a encontrara anos atrás...
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Rosto pálido, dos remédios que tomava.
Quilos devidamente espalhados pelo corpo ainda jovem.
Feições de quem tinha uma boa história de vida para ser contada...
Fora apresentada por um amigo em comum, alguém que gostava de ler tanto quanto ele.
Mostrou seus escritos: Folhas de papel, onde deixava sua marca no canto direito do final de cada página.
Uma rubrica com as letras MLRD.
Ele a convidou para sentar-se na poltrona ampla, ao lado de sua mesa, forrada em veludo vermelho, braços em cerejeira, com uma almofada muito grande, também em veludo da mesma cor.
Folheara o romance dela, durante 2 horas seguidas, enquanto esta dormia na poltrona, encolhida como criança. O amigo em comum, havia coberto suas pernas porque a saia que usava havia subido e estava com sua intimidade exposta.
Não acordou até o momento em que começou a ouvir o burburinho das vozes na biblioteca. Os dois homens comentavam o romance, pelo menos o que já haviam lido até ali.
Ela se espreguiçou sem cerimônia alguma e disse com seu jeito direto de ser:
_ Então, o que acharam?
O primeiro a falar foi seu amigo:
_ Maribel, seu romance apesar de pequeno, é simplesmente muito bom! Vai vender, com certeza.
As pessoas querem isso, pois estão tão cansadas de violência em toda parte: jornais, tv, internet, filmes...
Natural que queiram ter uma meio de escape de toda essa realidade que incomoda lá fora, isso você dará para elas!
Foi a vez do homem que era o dono da casa, se pronunciar naquele momento:
_ Moça, pode acreditar nas palavras do nosso amigo. Seu romance vai dar certo. Tem o meu apoio total.
Mas me diga: De onde veio essa inspiração?
Ela olhou fixo para um espelho que estava em sua frente, dizendo:
_ Um pouco de mim, do que vivi e do que a vida deixou de me dar.
Nesse instante, imaginou o rosto de Jairo ali.
Tanto tempo havia se passado desde o dia em que se conheceram, mas parecia que fora ontem...
( continua )
Fátima Abreu