Saudade aperta o peito,
Projeta na tela da mente,
Lembranças dos tempos idos,
Correndo como as águas do ribeirão.
Assisto o filme com meu enredo,
Vejo o menino grande em sonhos,
As brincadeiras inconseqüentes,
E as inconseqüências da juventude.
Passeia nas páginas da memória,
O primeiro poema, a primeira paixão,
O primeiro gozo debaixo na goiabeira,
O primeiro beijo, o primeiro toque,
Na intimidade da primeira namorada.
O primeiro experimento do sexo,
Quando me senti pela primeira vez,
Homem feito, de barba, tórax e pênis,
E capaz de contentar uma fêmea e minha.
Vejo o filme correr, formando uma saga,
O primeiro emprego, a responsabilidade,
O cordão da dependência arrebentado,
O filho que chegou, o senso do prover,
A vida real batendo na porta e no peito.
Simples opiniões virando conceitos,
A idade madurando e permitindo conselhos,
Os primeiros provérbios vomitados pela dor,
A solidão retomando as madrugadas frias,
O desamor tomando forma de melancolia e ardores.
Novas conquistas, outra e outra sedução,
Camas alheias, lençóis desconhecidos, corpo alheio,
Fugas, consciência madrasta, arrependimento, recomeço,
Aventuras misturadas às responsabilidades reassumidas,
E a vida correndo, avançando no tempo, no senso, no tino.
Maturidade chegando,
Saudosismo batendo na porta da alma,
Reparos pretendidos no passado estático,
Reconhecimento dos erros e dos acertos,
E o filme correndo feito ribeirão a caminho do mar.
Esse mar de vida que parece infindo,
Ilusão do querer, certeza da finidade.
EACOELHO