Naquele canto de cidade,
Confusa feito ambição proletária,
Caminhava entre a overdose e um coração partido.
Tinha manchas de sangue na jaqueta.
Seus olhos vermelhos, talvez de sono,
Projetavam cenas de Almodovar
Para deleite de vagabundos que morriam em silêncio.
Seus passos lentos,
Contrapondo-se as máquinas de ponto,
Perdiam-se no movediço asfalto
Feito de gritos e sorrisos amputados.
Seu corpo era uma forma de insulto.
Seus lábios, aromatizados por maconha e sexo descartável,
Cuspiam os últimos versos do apocalipse,
Enquanto cães uivavam nos terreiros católicos.
Mesmo cansada, agredia o vento,
Imprimindo desgosto aos que desconheciam sua existência,
Àqueles que baixavam seus chapéus à sua presença
Subversivamente viva frente a seus óculos falsificados.
De repente, fez-se noite,
E todas as teorias emudeceram.
Arremessada junto à parede,
Atingida por um sonho desgovernado,
Ossos quebrando-se em histérica euforia,
Moléstias esfregando-se em bacanais,
Tocou seu sexo e arremessou, liberta,
Seu suspiro lapidar ao mundo que lhe perdia:
“Vão todos a puta que os pariu!”
Eu sou a vertente mórbida de um anjo bom. A poesia trágica, o constante inconstante, o sopro gélido de uma noite fria. Creio ortodoxamente no que duvido, abrigo extremos, escrevo poemas em meio a balas de canhão. Odeio o lirismo covarde, as frases sem ...
À Charles Bukowski.