Desço pela cintura fria do meu continente
Na sua ausência converso com meus versos
Esmago as minhas mãos por não acariciar as suas
Todas as vezes que morri, renasci bem mais forte
À noite, ainda faço serenata pra minha dor
E escrevo o mesmo poema mais de mil vezes
Vou andando um pouco mais pelo meu continente
Fazendo dos pedidos a mais cristalina e sábia das orações
Serro um pedaço do céu e faço uma cama provisória
Durmo e o sonho não é meu e no silêncio do vento
Moldando seu corpo me acostumo com a distância
Entendo a luz e o escuro, me bastam o frio e o calor
Sem pressa laço a lua e ilumino o meu caminho, e faz muito frio
Não tenho direção, não temos direção, o sol não foi embora
Na distância vou levando você, fazendo do silêncio uma canção de ninar
Aprendendo a dor, acredito na lição, não temos mais nada, só o tempo que passou.
José Veríssimo