Uma raiz percorre os labirintos da terra
com a impaciência de um segredo por revelar
toda a noite serpenteando no escuro
como quem segue o trilho das águas
no leito azul de um sonho interrompido
uma ondulação súbita e persistente
a desenhar a febre de um laço que se desata
o milagre dos frutos renovados
a despontar entre o suor dos dedos
qualquer coisa indecifrável
que pode ser o esforço do vento
no mítico rumor da felicidade
ou simplesmente o choro de quem chega
à procura de uma outra luz
quem vem do interior de uma sombra maior
despido de feridas e memórias
e se abre num espanto transparente
como um livro ainda sem título
ou a folha branca de uma vertigem
sem palavra alguma que a macule