Poemas : 

Bem comum

 
Mulher, para que choras o meu amor?
-Eu não lhe mereço. Vai dizer uma amiga sem saber o que diz.
-Homem nenhum presta. Será o consolo de outra ainda mais perdida.
O que não mereço? Seu amor?
O que não merece? Minha rejeição?
Mesmo que me desse todo o seu amor,
Com ele eu não seria mais amado, você só amaria menos,
Aliás, amor me faltaria, entenda,
Quem sobreviveria ingerindo somente água?
Consegue imaginar alguém saudável assim?
Entretanto, a água jamais perderá sua importância.
É duro, eu sei, também sou carente. Quem não é?
Nós todos somos carentes e amantes, logo,
Seu amor não é maior e nem melhor que o de ninguém.
Nem eu melhor que qualquer um para merecê-lo mais ou menos.
Mas não merecê-lo?
Eu não merecia o amor de minha mãe que não teve escolha,
Contrário a todo o nexo
Foi quando me viu que ela entendeu o que realmente é amor.
Amor de verdade, aquele sem motivo.
Ela sim me amou como eu não merecia, mesmo assim,
Mãe cada um tem a sua, um bem comum, assim como o amor.
Pensaste que eu diria, ‘além da mãe, o amor é uma escolha’?
Quase, prefiro pensar que são várias.
Uma coisa eu sei, vejo o que chamam de amor e a quem chamam.
De forma alguma amor é mérito.
Não é necessário saber amar, é aceitar que o amor não é monopólio.
É saber amar a si mesmo por completo.
Saber que somos um universo
E escolher uma estrela favorita não apaga as demais.
Tenho certeza que sabes apreciar um céu todo estrelado.

Minha intenção nem de longe é reerguer Sodoma
Para Freud, sexual não era apenas sexo.
Nem para Machado de Assis o amor um casamento.
E justamente por te amar como amo a todos
Eu jamais lhe trairia, pois,
Todos sabem a dor da traição, ou não?

É claro que não é tudo de tão igual,
Em ti não vejo pudor, luto contra o ciúme,
Amo mais? Mais tempo, e que tempo bom.
Também quero ser motivo de ciúmes, é claro, mas,
Que o ciúme seja um escudo, não as grades de uma prisão.
Para que nossa saudade se mate
Deixando para trás outras saudades,
Não transforme de mim uma necessidade,
Não faça eu me sentir uma droga.
Sim, seu amor me dói, e também me faltaria.
Mas uma criança faminta também me doeria.
Na hora eu lhe daria um pão, torcendo para que não mais a falte.
Reclamar falta de amor? Quanto egoísmo de nossa parte.
Se faltar, deixa que parta.
Mesmo que essa falta nos parta em mil pedaços.
Reconhecer que aceitar a dor é o melhor que faço.
Amo-te e também amo o mundo, para que desilusão?
Vai fundo, caia no mundo com a certeza que eu ainda te amo.
Te amo no mundo, sem apego ou devoção.
Numa altura dessas pareceria banal dizer
‘Eu te amo’
Mas dessa vez acho que finalmente o entenderia como sincero.
Amo literatura, esportes, comidas e viagens.
Nenhum destes é absoluto, cada um me entende de um jeito.
Cada um preenche um pouco do que sou, enfim,
Amo também as pessoas.

 
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Bico
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