UMA COMÉDIA ROMANTICA E UM CORAÇÃO AINDA ADOLESCENTE
Enrustidamente vem lágrimas, ou pelo não passa sem algum soluço bem disfarçado por um sentimento terno, quando vejo uma comédia romântica com final feliz enquanto que no restante não sou assim tão emotivo.
Estou aqui me entregando e fico a pensar do por quê dessas lágrimas infantis virem assim tão fáceis, mas outro dia assisti a uma entrevista do Jô Sares e ele disse que sente a mesma coisa e eu vi então que não estou solitário no meu draminha peculiar.
Pode ser bem simples, bem água com açucar, mas lá vem o engasgo.
A minha esposa, de quem procuro disfarçar a todo custo, não sei se consigo, pelo menos ela nunca falou nada, assiste na maior naturalidade e eu no inicio ficava espantado com a “frieza” dela.
E recentemente outro amigo numa conversa descontraída, ao saber que nasci no final de junho, próximo do aniversário dele, falou: “Então você é um chorão também?” e caiu na maior gargalhada complementando que assistiu ao filme Ghost chorando do início ao fim e que a esposa ficou se divertindo à custa dele.
Então pela pequena amostragem vejo que tem muito marmanjo lacrimejando em comédia romântica por ai.
Então de onde vem este chororô?
Em face destes exemplos fiquei pensando e tem uma lógica nestes choros.
O amor das comédias românticas é um amor de adolescente, normalmente com personagens com pouca experiência, às vezes adultos atrapalhados, assim como éramos na adolescência e por isto a nossa torcida já que lá atrás, sentimos o mesmo sentimento, mas provavelmente sofremos por não termos sido correspondidos.
Então aquele sentimento não se exauriu, não o conhecemos em todo o seu curso até o final.
E por causa deste sofrimento, causado pela decepção, não voltamos mais a sentir aquele “amor juvenil”, pois mudamos com esta experiência sofrida, fizemos um upgrade, um avanço na nossa evolução emocional e como se tivéssemos mudado de sintonia, aquele sentimento não sentimos mais, pois deixamos de ser inocentes, mas ficou na lembrança como se fosse o amor ideal já que não o vivenciamos na rotina do dia a dia, o que provavelmente o esgotaria quando conhecessemos melhor a pessoa.
Sofrimento do primeiro amor, platônico e não correspondido e dai o sentimento terno que insurge.
Esta explicação não pode servir para todos, mas quantos de nós não se sentiu o patinho feio quando se apaixonou lá naqueles anos dourados pela musa que não nos dava bola, só amizade.
Aquele sentimento era o amor verdadeiro? Não, provavelmente não, mas era puro e bonito.
No filme PROPOSTA INDECENTE o milionário infeliz, feito por Robert Redford, fala:
“Quando eu era jovem, no metrô, eu olhava a menina mais linda que eu já tinha visto, mas era muito tímido e quando ela me olhava eu desviava o olhar e quando eu a olhava ela desviava. E quando eu saltei do metrô ela me deu um sorriso quando ele já estava com as portas fechadas e em movimento e eu voltei lá por duas semanas, sempre no mesmo horário, tentando encontrá-la, mas nunca mais a vi e também não tem um dia, deste então, que eu não me lembre dela e do seu sorriso.”
Este é um exemplo de como podemos ficar ligados por um sentimento passado, pensando que aquele era o verdadeiro, pois bonito, quando não é, mas como não o vivenciamos na sua plenitude só fica a impressão que ele teria sido “perfeito”.
Criamos toda uma vida em cima de algum sentimento tido por alguém quando este sentimento na realidade não se mostraria tão perfeito na prática, ficamos só com a impressão que seria, pois foi interrompido ou não realizou-se como o caso do milionário do filme.
Em face disto vamos seguindo pela vida com um parâmetro errado e idealizando em cima dele.
Tive uma experiência com uma mulher mais velha na adolescência que terminou de forma abrupta e muito prejudicada e ai fiquei anos buscando sentir por outra mulher aquele sentimento novamente, e quando um dia consegui ele durou muito pouco e descobri que era apenas algo muito frágil, mas que lá na adolescência parecia um grande amor.
Por isto também devo ser um chorão em comédias românticas.
Mas quantos de nós não passamos pela vida procurando algo que não existe mais, pensando que perdemos o grande amor da nossa vida, quando na verdade não seria assim. É como quando voltamos a algum lugar onde fomos muito felizes e quando chegamos lá vemos que o lugar já não tem nada a ver.
O que valia era o que sentíamos dentro de nós e neste caso a vida e os nossos sentimentos são como um rio que só tem caminho de ida.
No inicio raso e revolto e na sua impetuosidade passa rápido, mas depois segue caudaloso e sereno na sua profundidade.
"Não é o lugar em que nos encontramos nem as exterioridades que tornam as pessoas felizes; a felicidade provém do íntimo, daquilo que o ser humano sente dentro de si mesmo' Roselis von Sass – www.graal.org.br