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Melancolia.

 
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Carlos despertou com o alarme do celular. O aparelho marcava 6:30, horário que ele costumava acordar. Mas hoje não, mais uma vez não iria ao trabalho, desligou o alarme, tornou a deitar na cama.

Acordou novamente, estendeu o braço para alcançar o relógio, 11:40. Sonhou com algo, tentou lembrar do sonho, sem sucesso. Provavelmente foi um sonho erótico, acordou com o pinto duro. Masturbou-se, mas não lembrou do sonho. Permaneceu na cama por mais uns vinte minutos, levantou, andou até a cozinha e preparou um café, apanhou um pacote de biscoito que se encontrava em cima da mesa, e voltou para a cama. Logo no primeiro gole queimou a língua e percebeu que errou na dosagem do açúcar, bebeu assim mesmo.

Tentou voltar a dormir, talvez sonhar novamente, não conseguiu. Pensou em bater outra punheta, teve preguiça.

Alcançou o controle da TV, passou por todos canais, nada o interessou.

Fechou os olhos, pensou na filha, com quem não falava a mais de uma semana, pensou nas contas atrasadas que amontavam-se em baixo da porta, pensou no emprego, não ia a quatro dias, provavelmente já teria sido demitido.

O telefone tocou, emergiu, como se tivesse sido agarrado por um salva-vidas, enquanto afundava-se em uma correnteza de pensamentos ruins. Não atendeu, esperou parar de tocar e tirou o telefone do gancho. Poderia ser sua filha, sua irmã, alguém do trabalho, não queria falar com ninguém.

Lembrou de ter fome, não tinha nada para almoçar. Tinha que ir até o mercado da esquina, comprar algo para comer, podia aproveitar e comprar uma garrafa de whisky. Quase acreditou que realmente iria, mas só de pensar na possibilidade de receber um "bom-dia" da atendente e ter que sorrir, desistiu.

Tomou um banho. Pensou em Anne, desejou vê-la.

Ainda nú e mal enxuto, deitou na cama, queria dormir, não conseguia.

Lembrou da filha, das contas, da demissão, da fome, lembrou da arma. Comprou uma arma há 7 anos, para defender sua família caso precisasse, nunca precisou, "graças a deus", ele pensou. Pegou a arma em cima do guarda-roupa, um Taurus calibre 38, sentou na cama, conferiu as balas, todas estavam ali. Abriu a boca e colocou o cano, destravou a arma, puxou o gatilho. Dormiu.

 
Autor
LeandroHaole
 
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