Poemas : 

Silencioso delirium

 
Foi numa rua escura
que os lábios da noite
me tocaram no rosto!

Buscavam novo-rumo, nova-Alma,
novo-ser ...

Mas era tarde, tão tarde,
quando a noite já cansada,
desabrida e incólume,
se fechou sobre si mesma ... melancólica!

E o silêncio ruiu, o medo saiu à rua
com medo da noite, cantou-se o fado,
soaram gritos-de-mulher,
passos-de-Homem ... tanto desassossego
nos enredos do tempo, no lume-dos-sentidos.

E ecoava lá longe, distante: "Ai-de-mim! ...",
tão longe, em palcos longínquos,
em eras-distantes ... era eu,
pesadelo de mim próprio, delírio-de-delírio,
lâmina do impróprio!
Faca de dois gumes, lâmina de dois cortes,
era a roda do destino!

Mas às vezes esse silêncio não passa
d'um delirium ...


Ricardo Louro

no Chiado
em Lisboa


Ricardo Maria Louro

 
Autor
Ricky
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