Poemas : 

Com ciência

 
.

Paredes pintadas.
Negro-carvão raspado
na parte central,
mais borrada.
Por cima, desenhos de gizes,
matizes de outras cores.
Desenhos de macacos.
Coloridos.
Corroídos pelo fermento
tempo.
Respondo tudo isso ante
o mando que interroga:
o que vejo quando fecho olhos?
Imaginejo.
Porque imagino que vejo
ou vejo na ausência da coisa vista,
coisas que são só coisas
por terem função em mim,
por conceberem-me lócus
para que passem variáveis
independentes,
em mim,
totalmente dependente
delas,
múltiplas,
multidimensionais.
Conexos estalos de instantes,
eles sim,
responsáveis por tudo.
Fico aqui livre
sem pré ocupar-me
em destino
ou coisa tal.
Apenas preocupo-me em observar
a mim e as variáveis,
variantes faíscas de eu pensar
que me conheço.
Também me escapa qualquer culpa.
Não cabe culpa em lócus,
em espetáculo perfeito,
tragicomédihorror
das variáveis.
Macaco diligente.
Macaco quase gente.
Gentio.
Gene do tio de outrora.
Epigenético.
Um corpo todo,
complexo e orgânico,
um palco natureba
cheio de poder a ser
e porvir,
e apodrecer,
a depender delas,
sempre presentes,
constantes inconstantes,
variáveis-instantes.
Eu fico além da liberdade
e da dignidade.
Eu fico ubermeinschen.
Eu fera demasiado ferido,
zaratustrado de cantar
a todo canto:
- Não conheces a ti mesmo!
O outro te conhece e te diz como é.
Por isso a carência,
a necessidade,
a urgência emergente
de vagar pelas cidades
em sombra de tropas
de gentes nem sempre gentis
que te dizem:
feio gordo bonito magro esquisito qualquer-coisa
Um mico!
Macaco!
Eu não escrevi esse poema,
ele aconteceu.
Por minha mínima culpa,
por minha máxima com ciência.

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Autor
thiagodebarros
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 02/11/2012 15:49  Atualizado: 02/11/2012 15:54
 Re: Com ciência
Prenúncio do poema... pintura rupestre... pré-concepção, pré- com ciência.
É o que vejo. “Imaginejo”.

“o que vejo quando fecho olhos?
Imaginejo.
Porque imagino que vejo”

Homem/ macaco/coisa/ tragicomédihorror/gentio/ epigenético/
Ubermeinschen! ( o que fica é mesmo para além do homem)
Genial!!!
Especialmente os neologismos, as escansões, num espetáculo de manejo da palavra, que só vejo nos grandes.
Bj.