saturam-me o dia indeciso, a lua, qual buraco amarelado em De sterrennacht,
esta loucura que se esvai, definha,
as cartas de amor e quem nunca as teve, as palavras que não saem, entopem, engasgam-me, que provocam vômitos de sangue, ou de vinho tinto,
satura-me a foda que não dei,
o nojo, o grito.
satura-me esse alguém que se quer ninguém,
esse ninguém que se diz uno, indivisível, que Job questionou,
a mesa de poker envolta pelo fumo dos cigarros queimados, o vício, a presunção da água benta, a morfina,
saturam-me
as noites perdidas que se julgavam desvendadas, embriagadas, as manhãs pelas tardes a dormir, (a barba por fazer).
e tantas vezes me saturo de mim que me satura o pensar, a verve,
suturo a pele das cicatrizes abertas que me saturam nestes perenes murmúrios, inacabados.
(I)
(intermináveis...)
"Forfante de incha e de maninconia, gualdido parafusa testaçudo. Mas trefo e sengo nos vindima tudo focinho rechaçando e galasia. Anadiómena Afrodite? Não:"
("Afrodite? Não" Jorge de Sena)
De sterrennacht (A noite estrelada) pintura de Vicent van Gogh. do Livro de Job: “Se me deito digo: Quando chegará o dia? Se me levanto: Quando virá a tarde? E encho-me de angústia até chegar a noite”
e tantas são as coisas que saturam, sem se poder dizer que umas são mais que outras, por vezes é quase visceral, outras vezes são ao de leve, como "batem leve, levemente", será sempre e apenas assim, pouco mais que isso.
Agradeço-te a leitura, o comentário o favoritar (que fique no pó)