soneto
incomoda-me o plano azul do céu
sem pássaros n'afoita revoada
ou nuvens cobertas a sol e mel
lembra-me página em branco, um nada
que ao menos da linha do carretel
pipas piquem-lhe as veias e trovoadas
d'antigas cantigas rasguem-lhe o véu
dessa serena viuvez desbotada
quem sabe assim não lhe eclode alegria
no prazer em raiar um novo dia
despertada com orvalhada tez
antes toda a paixão das intempéries
que a quem vivo queima, arde e fere
que à sombra sucumbir em placidez