És o chão que eu piso,
sob o sol que me aquece,
nas manhãs da minha tristeza
ou nas tardes da minha alegria!
Devias ser o chão que me alimentasse,
mas escasseias pela tua incapacidade
de produzir o essencial!
Pátria minha, meu orgulho ferido,
és o mar imenso que me abraça
e me dá alento na maresia
da minha saudade,
de outros tempos, Pátria,
em que tu, bem mais pobre,
tinhas um chão rico de trigo,
pão nosso de cada dia
e eras esse mar cavado,
de duras fainas para sustento dos privilegiados!
Ah...Pátria do tempo da ignorância,
negavas educação ao povo,
preferias que fôssemos cobaias
pela demência de um ditador
que tudo nos tirava e pouco nos dava,
“éramos pobres e muito honrados”
sarcástica ironia de mentes perversas!
Mas agora, Pátria minha,
muito menos nos dás, com tanto que tens
que só a alguns pertence,
tiras a casa e o pão da nossa vida sacrificada,
tornas-nos mendigos, de saúde precária!
Tu, Pátria de desgraçados,
que abandonas os teus filhos,
como sempre fizeste em toda a tua História!
Como eu gostaria de abrir a minha alma,
dizer-te que me sinto honrado
pelo meu patriotismo...
Mas só me resta desesperança pelo teu futuro.
José Carlos Moutinho