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O carcará carcou a garra ocre
no cangote do ouvinte,
numa tarde quente entre paredes verdes de tinta,
e também de musgo.
O carcará cantado de lá voou raso por ali.
Depois assum, bem preto que preto só
e cego.
Gongada de Gonzaga e Gal,
cantado doído demais.
Preto que quase azul.
Liso.
Riso lilás.
Falo assum e o assunto da andorinha vem à tona:
é que andorinha veio antes mesmo de tudo,
de carcará, de assum...
As andorinhas que voltam e também alguém,
num violão desafinado de uma tia bruxa
não por feiura ou poder,
mas por vontade.
Tia trás outro atrás
pássaro mais noite
não por ser negro como assum,
mas por ser mais vivo lá,
no escuridéu
na perdição da luz
no beleléu.
Bem de raso uma vez,
veio esse voo xadrez,
de preto e branco
descolorido corujal.
Foi num muro fino, e ela de cima
dizia com pio:
- Se passar te pego, pecador!
Um horror!
Eu nem pássaro que sou
passei na rua (com temor).
A coruja voou e enfrentou,
mas nenhum mal me causou.
Cansado de rimar no enredo,
nem vou falar de morcego,
pois não são pássaros
mas fazem como corujas,
enfrentando o desalado que passa.
As andorinhas voltaram,
depois do gavião.
Ou não.
Talvez não seja gavião.
Nem sei que bicho é
que voa em mistério negro, com asas grandes
em círculos de três,
por cima da maçonaria rosa cruz da quadra seis
por cima da biblioteca.
Um dia os vi de perto,
estavam mesmo em três
no solo,
entre raízes vermelhas saltando do chão.
Eram grandes e majestosos.
Não se apresentaram
nem foram simpáticos,
mas sei que têm mistérios,
só por voarem.
São tantos pássaros,
tanto espaço e céu
e pio
e tanto eu, alado por dentro,
gravidade zero de um vazio.
Minha memória de pássaro,
minha vida lá no ar, mais viril,
mais alado,
mais livre, mais solto,
Agora tudo é gaiola.
Lá vem a galinha D’angola.
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