És flor, delicada e bela, perfumada, singela. És rosa, vermelha, carmim incandescente, ou tão simplesmente, criação de minha mente. És mulher, perdida na noite, que encontro em cada madrugada vagueando em mim. És corpo despido, desprotegido, que me segue na ânsia de ser abraçado.
Sou palavra, morta, vazia e oca, que se perde entre frases. Sou texto sem autor, composição desprovida de senso. Sou nada, feito de muitas coisas, sou um pouco de tudo, de todos. Letra afogada num oceano de verbos, solitário na incessante busca do que não encontro.
Cruzamo-nos um dia, num recanto do sonho, num pedaço esquecido do Universo. Uma alma despida de corpo, um corpo vazio de alma, tu a minha casa, eu o teu habitante. Num olhar que não se cruzou, adentrei-me em ti, na força dos sentidos, instalei-me em teu peito e tu, tu abraçaste-me, recebeste-me em ti como a boca sedente recebe a água fresca. Eu acolhi o teu corpo, o teu calor, como um mendigo recebe um abafo em pleno inverno.
Hoje tu ainda és o corpo desnudo, e eu, o xaile que te cobre a pele, nas mãos carregas a flor que de nós nasceu.