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não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu
para: vânia lopez
a minha parceira das palavras teceu o seguinte comentário ao meu texto sophia:
A simplicidade fala como a continuação de uma música,
mar solto... desejava que não fosse pecado escrever assim:
com o mar solto sem nenhum grampo impedindo a brisa.
mas... 'de costas para a realidade' (é antes de tudo um abuso)
uma disritmia aos olhos de quem lê.
de qualquer diabo: escolho essa tal de simplicidade dos olhos,
por ser absoluto de quem olha.
por hoje obrigada, mas não sempre
porque gosto de mais e mais. beijo
respondi com amizade:
que mais poderei escrever. que mais poderei entregar de mim para dizer que a escrita é uma caneta e um olhar que guarda corpos e objectos num papel – tudo o que é existência é imagem – gosto de sentir. de contemplar. de ouvir. gosto de ver o movimento das coisas e os bancos sós no jardim. gosto da solidão. do silêncio do nomes que não conheço e das coisas com nome – gosto mais do mundo dos outros do que do meu – dentro de mim a ilusão de te escrever tudo o que sinto. o cheiro do meu mar. o sol que cai por uma encosta que nunca subi. o vento sul a roçar as folhas de levezinho e as árvores a gemer como cantos de sereias encantando os pássaros-primavera em campos cobertos de magnólias – escrevo – e os olhos a ver cores que não existem para ninguém. vejo eu porque sou eu. irracional. idiota de um amor impossível – assim sem saber bem como o fazer digo-te: quando escrevo sou eu e os outros podem ainda ver mais longe. as searas estão ceifadas e o fim do mundo é ali. onde o meu dedo aponta. onde morrem todos os que querem ser poetas. ali onde os teus olhos veem com os meus – um mundo que não existia antes dos poetas de verdade – como faço agora para te dizer tudo isto que sinto sem boca e sem arte? escrevo como sei. e o corpo grande está cada vez mais carregado de coisas pequenas que não sei escrever