Textos : 

sophia - 3

 
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não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu


para: vânia lopez

a minha parceira das palavras teceu o seguinte comentário ao meu texto sophia:

A simplicidade fala como a continuação de uma música,
mar solto... desejava que não fosse pecado escrever assim:
com o mar solto sem nenhum grampo impedindo a brisa.

mas... 'de costas para a realidade' (é antes de tudo um abuso)
uma disritmia aos olhos de quem lê.
de qualquer diabo: escolho essa tal de simplicidade dos olhos,
por ser absoluto de quem olha.

por hoje obrigada, mas não sempre
porque gosto de mais e mais. beijo


respondi com amizade:

que mais poderei escrever. que mais poderei entregar de mim para dizer que a escrita é uma caneta e um olhar que guarda corpos e objectos num papel – tudo o que é existência é imagem – gosto de sentir. de contemplar. de ouvir. gosto de ver o movimento das coisas e os bancos sós no jardim. gosto da solidão. do silêncio do nomes que não conheço e das coisas com nome – gosto mais do mundo dos outros do que do meu – dentro de mim a ilusão de te escrever tudo o que sinto. o cheiro do meu mar. o sol que cai por uma encosta que nunca subi. o vento sul a roçar as folhas de levezinho e as árvores a gemer como cantos de sereias encantando os pássaros-primavera em campos cobertos de magnólias – escrevo – e os olhos a ver cores que não existem para ninguém. vejo eu porque sou eu. irracional. idiota de um amor impossível – assim sem saber bem como o fazer digo-te: quando escrevo sou eu e os outros podem ainda ver mais longe. as searas estão ceifadas e o fim do mundo é ali. onde o meu dedo aponta. onde morrem todos os que querem ser poetas. ali onde os teus olhos veem com os meus – um mundo que não existia antes dos poetas de verdade – como faço agora para te dizer tudo isto que sinto sem boca e sem arte? escrevo como sei. e o corpo grande está cada vez mais carregado de coisas pequenas que não sei escrever
 
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sampaiorego
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/10/2012 23:34  Atualizado: 20/10/2012 23:34
 Re: sophia - 3
Essa escrita emocionada e autêntica é como um brinde a quem lê. Aqui encontro, quase encontro esse lugar impossível do escritor. Digo impossível, porque não nominável, nunca determinado. Mas é aqui: "onde o meu dedo aponta. onde morrem todos os que querem ser poetas. ali onde os teus olhos veem com os meus – um mundo que não existia antes dos poetas de verdade."
Sei é que me emociono ao ler isso.

Bj.


Enviado por Tópico
Vania Lopez
Publicado: 21/10/2012 00:41  Atualizado: 21/10/2012 03:44
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Localidade: Pouso Alegre - MG
Mensagens: 18598
 Re: sophia - 3
ainda me matas... com essa sua generosidade de alma.
assim que cheguei aqui, pensei: já no sophia 3!
(isso é desonesto) amigo que encontro em toda e qualquer
palavra e perco uma parte de mim, todas as bolhas de um refrigerante,
antes da eternidade. suas palavras meu querido, surgem por todos
os lados como se fossem batatas plantadas na alma ( essa que arreia aqui).
como fã agradeço, como amiga admiro... ainda morro pois sua poesia
é um beco sem saída, um tiro no alvo. (como faço?) bjs