“O homem está condenado à liberdade". Tal é a máxima sartreana, inúmeras vezes citada, que se tornou um lugar comum ao se falar em liberdade. Por que condenado? Afirma Sartre, que a essência do homem é liberdade. Os homens fazem a partir da liberdade, o que bem entendem de si mesmos.
Menina eu podia tudo! Não me sabia, era nada; só olho, pele, projetos... Amontoado feliz de células.
Assim via os vaga-lumes na noite,
Clareando com pontos brilhantes,
Os pastos silenciosos e frios,
Sentia o cheiro bom,
Do estrume de gado e dama da noite,
Misturados ao som dos grilos.
Assim, ouvia o mugido longo,
Das reses chamando os filhos,
O vento marulhando casuarinas,
Os sabugos cavalgantes,
Os trens de besouro e caixa de fósforo,
A vitrola de corda tocando Sabiá no Terreiro,
O gosto mágico do limão-doce,
O suco das mangas escorrido,
Pelos braços e pingando nos cotovelos.
O som oco e sonoro,
Da batida das porteiras,
As canecas de leite espumoso,
Tomadas na cerca do curral,
A chama acolhedora,
Do fogão de lenha crepitando,
O Tlec-tlec sacolejante do ferro de passar,
Nas mãos caprichosas avivando as brasas,
Da primavera florida no caramanchão.
Do vermelhão luzidio do alpendre,
O sono sob o piano,
Ouvindo o Noturno de Chopin,
Nos gestos balouçantes,
Do corpo da minha mãe;
Suas mãos vivendo a música,
Viajando longe na saudade da sua terra.
Tudo isso me fez.
De valia, nem a saudades!
Pena, pena mesmo,
Eu ter escolhido a dor,
Difícil caminho de pedras,
Liberdade de amar,
Liberdade de não ter paz,
Liberdade de ser só.