Fede o corpo moribundo,
mãos que um dia quiseram plantar cerejeiras
por entre as núvens de primavera,
mãos que tapam buracos ensaguentados, seguram visceras,
pés descalços que um dia correram areais desertos,
despojados do cansaço, agora, apenas despojados.
“- Segura-me a cabeça,
enquanto os olhos se fecham,
e mesmo que o grito se eternize, deixa o cigarro acesso
queimar os lábios insensíveis.
Que o fumo se transforme neste nevoeiro tão perto".
Fede o corpo moribundo
que um dia amou;
das noites levará luares,
das tardes levará o sol de inverno,
das manhãs levará o sorriso,
o nada o invade,
a escuridão que o contorna, completa-o.
Fede o moribundo.
"Forfante de incha e de maninconia,
gualdido parafusa testaçudo.
Mas trefo e sengo nos vindima tudo
focinho rechaçando e galasia.
Anadiómena Afrodite? Não:"
("Afrodite? Não" Jorge de Sena)
Textos de Francisco Duarte