Contos : 

O grande momento da virada

 
Marck havia se cansado de todas as vezes em que havia sido deixado de lado por todas aquelas mulheres que não o entenderam. Havia chego o grande momento. O momento da virada.

Estava desde cedo decido: Iria para o bar à noite. Escolheria um Manhattan e ficaria sentado na cadeira. Observando. Escolhendo a mulher que seria o alvo da noite. Ora vamos... Não seria desrespeito nenhum ou, tão pouco, desmerecimento algum com todas aquelas lindas mulheres que escolheriam aquele bar para passar a noite. Nem todas elas perderiam tanto tempo se arrumando, gastando dinheiro na compra das maquiagens, dos perfumes, das lingeries, dos sapatos e afins, por esporte. Ficarem lindas como um feixe de luz refletido em diamante, apenas para entrar em algum lugar, falar trivialidades, beber um Martini e sair como se nada tivesse acontecido, sem nenhuma emoção, ou sem ao menos uma boa história para contar. Marck tinha convicção de que elas estariam esperando os caras de sempre. Os manjados e superficiais paqueradores de bar. Eles sempre estão lá. Estão sempre em todos os lugares. Mas aquela noite a sorte estaria com os gatos dessa vez, e não com os cachorros.

Comprou roupa nova... E toda aquela ladainha. Estava pronto. Cigarro, fígado, sobrancelhas treinadas e armadas. Tudo no devido lugar. E claro, sem esquecer a caderneta de cantadas, que hora ou outra seria usada na ida ao banheiro. O jogo havia começado bem. Já avistava uma loira linda e meiga lá... láááááááá adiante. Notara as pernas, a boca, o cabelo, as pernas, os seios pequenos, novamente as pernas... E surpreendeu-se com as pernas da mulher. Sentiu a energia fluindo. Ela era perfeita. Poucos passos à frente e já havia notado mais três lindas mulheres. Todas atraentes e carregavam aquele... aquela... Aquela coisa sabe? Aquele olhar de enfrentamento, de auto-suficiência, de superioridade, aquela coisa de superfêmea. Toda aquela boça típica. Enquanto ainda permanecessem sóbrias. Logicamente.

Sim. Alvos claros na mira, drink na mão. Chapéu e perfume. Faltava a grande situação. Avistou e avistou e avistou. Enfim, tudo estava claro em sua mente. Duas morenas e uma ruiva já estavam na mira dos cachorros. Mas elas foram lá querendo eles. Não estavam preparadas para o gatuno Marck. As pernas da loira e sua amiga continuavam lá, mas agora nem tão adiante assim. Observou como elas olhavam as pessoas e teve a certeza que ela seria sua rainha aquela noite. Já sonhando e desejando a amiga das pernas também. Mesmo sendo ridículo, sonhou.

Já havia se passado uma hora e meia no mínimo. Já havia feito contato visual com a loira, as pernas, e toda a pele que estava à mostra. Aproveitou e fez contato visual com a amiga também. Analisou a situação e percebeu que a loira já havia desconsiderado alguns cachorros, alguns gatos e alguns ratos. Tinha certeza que ela seria seu trunfo. Deve-se aproveitar para dizer que ficou um pouco confuso ao ver a loira olhando com sedução para outra loira, e acompanhou o andar maravilhoso de uma morena que passara na frente dela. No fim, gostou. Mas não teve muita sorte em olhar a morena. E a loira estava toda sorrisos. Perfeita, outra vez. Sim... Ela estava no papo. Era ela... Tinha que ser ela... O ponto de desequilíbrio naquela vida de bunda mole de Marck. Chegara o momento. A amiga da loira saiu para ir ao banheiro, ao que tudo indicava, e deixou as pernas no sofá. Antes ainda, deu uma olhadela para o rapaz gato e charmoso que estava no bar e pateticamente fingia que bebia seu drink. Manhattan. E aquela bela criatura linda ficou sozinha. Certo de sua investida levantou-se convicto e com toda coragem que poderia carregar. Não era tanta, mas era suficiente. Porém...

Nem meio passo andou, e uma mão segurou seu ombro. Broxante. Ao olhar para trás viu que um rapaz notavelmente mais experiente naquela arte de gatunar em bares, com um sorriso simpático o cumprimentou com um olá de saudação. Indignado. Totalmente indignado com o rapaz, Marck franziu a sobrancelha com uma expressão improvisada e jogou cabeça à frente no ar tentando se desvencilhar daquela mão masculina e de aspecto feminino. O rapaz, que era muito educado, estranhamente estava usando o mesmo feitiço contra o feiticeiro. Ele estava simulando a desenvoltura que Marck havia treinado. Quis dar um tiro na sua própria testa, mas só imaginou a cena. O fato é que ele falou para Marck, que ele estava ali com alguns amigos, e um desses amigos era uma garota que estava olhando para ele a noite toda. Quando Marck levantou-se, ela havia pensado que ele iria embora e pediu ao amigo que lhes apresentasse. Ironia do destino? Talvez. Sentindo-se como se alguém lhe houvesse dado um tapa com aquelas luvinhas brancas patéticas cirúrgicas, ficou meio desnorteado. Mas encontrou novamente seu rumo quando viu a amiga do rapaz. Ou melhor, A AMIGA DO RAPAZ!!
Ela era linda. E perfeita. Tinha gengivas sadias e dentes alinhados, brancos e sem batom manchado. Pernas e pele. Perfeita. Bobo, e imbecil, abriu largo sorriso. E ficou na hora interessado. E foi ao encontro de Fernanda.

Enfim... Marck desencalhou. E por ironia do destino, Fernanda havia dito à Marck que algumas vezes é necessário aquele “momento da virada”, que se luta contra a lei natural da má sorte que abate a muitas mulheres. Sorrindo, e finalmente usando as sobrancelhas treinadas para matar, disse que a entendia perfeitamente.
Olhou para trás na saída, ainda enroscado na cintura de Fernanda, viu uma cena que fez com que sentisse novamente orgulho em estar vivo. As pernas da loira perfeita, atracada com as pernas da amiga. Lindo... Lindo de se ver. Isso sim chamou de: O GRANDE MOMENTO DA VIRADA.


No quiero ser normal.

 
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marceloinverso
 
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