Amar o Diabo
É como amar o próprio Judas
O mais elevado,
Aquele a quem tentaram
Macular-lhe o brilho,
Denegrir encolerizados
O preferido do único Filho.
Amar o Diabo
É como amar o Evangelho,
A sublime canção,
Boas Novas
De que ninguém precisa de salvação.
Amar o Diabo
É desprezar os doze
Como se nada fossem,
É amar o décimo terceiro,
Ter a carne imolada
No templo de sacerdotes e carniceiros.
Amar o Diabo
É como amar
A geração de Adamás
E seus luminares,
Aquela que tentaram sacrificar
Nos altares
Dos que jejuam e se abstêm
Gritando aleluia e amém.
Amar o Diabo
É ouvir a voz de Satanás
Sussurrar-nos assaz
Que nosso chão,
Que nosso pão e além
Não é uma caixa
Onde se acha
Todo o mal ou todo o bem.
Amar o Diabo
É ter Judas Iscariotes
Como confessor e sacerdote,
Ser facho ou archote,
Apóstata,
Alvo dos apóstolos,
Malditos zelotes.
Amar o Diabo
É não ser gado,
Estar imundo e sem pecado,
Trazido ao mundo,
Da perdição das estrelas
E poder vê-las
Como antiga cela
Onde lhe devoravam
O fígado e as costelas.
Amar o Diabo
É ver o próprio Deus
Despir-se de todas as vestes
É vê-lo nu, sem desejos,
Monstro do Leste,
A contemplar no espelho,
Sem chifre ou rabo,
Toda a pureza do Diabo.
Amar o Diabo
É tornar-se pio crente,
Ter nas mãos a estrela e a serpente,
A ira acesa,
A marca e o chifre
De quem quer ser livre
E, enfim, se desnuda
Para crer
No evangelho de Judas.