Vai,
Segue o teu caminho, menino Júlio.
Não deves morrer ainda.
Ainda não,
Vai.
Lisboa é uma mulher que te espera.
Faz anos que aguarda o teu beijo.
Os cafés onde sentavam Pessoa e Torga te esperam.
O vinho é farto.
O vinho te aguarda,
As madrugadas te aguardam.
Os amigos preparam as taças, prontas para o brinde.
Não importa que o frio incomode teus hábitos tropicais.
Depois vem a Primavera,
Sabes disso.
E as flores se renovam.
E as mulheres não serão mais tristes, menino Júlio.
Anda, menino Júlio.
Do outro lado o mar te abraça.
Perderás o medo das chuvas,
Dos raios.
Quando estiveres triste, Amália virá cantar nos teus ouvidos.
E Eugénia, a bela Eugénia, te trará um pouco de Vinícius.
Apagarás a disciplina dos padres dos tempos do colégio.
Verás o olho cego de Camões.
Cortejarás Inês de Castro na Quinta das Lágrimas
- Que el-rei não te veja.
Jogarás no Acadêmicos de Coimbra, que gostas desde a infância.
Marcarás um gol no último minuto,
Quando o fôlego te parecer escasso.
Anda, menino Júlio,
Anda.
As manhãs não podem esperar.
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júlio
Júlio Saraiva