Faço sentidos meus de palavras dos outros... pelo simples fato de que eu sou humano, a estridente máquina de eu viver funciona assim, nada posso fazer!
Mas não consigo enumerar quantos sentidos fiz, e faço, dessas palavras de Herberto Helder:
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"...
Por vezes tudo se ilumina.
Por vezes canta e sangra.
Eu digo que ninguém se perdoa no tempo.
Que a loucura tem espinhos como uma garganta."
... ...
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Espinhos na minha garganta... às vezes, eu os sinto, e os disparo... mas contra quem? A loucura é pensar que o ser humano é uma falha da Natureza; nenhum animal consegue ser tão ruim como um humano.
Mais suavemente, pensar com Sartre: o Homem é uma paixão inútil... ser inacabado, sempre incapaz de plenitude... um cagaço, um trapo de nada que institui religiões apenas por temer o aniquilamento certeiro a que está condenado...
Que espinho é esse que trago na garganta? E essa loucura que me plange, me tange, me empurra sempre e sempre para o salto no abismo? Por que não me aquieto, e por que não me vivo apenas cotidianamente, tributável, localizável? A fuga é falsa... não há infinito que possa conter tanta pusilanimidade!
[Eu não disse nada...]
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[À luz do dia, no Desterro, em 04 de outubro de 2012]