Algures num céu distante
não maior que um instante,
voa a mulher com asas verdes.
Não é uma espécie de anjo
não é doce nem gentil, é humana
e não sabe porquê viver...
Ela voa, à toa, livre e boa;
não é igual, é tão diferente
tem liberdade que ninguém tem!
Tem um leve ar de indigente:
ingénua, calma, irada, furiosa!...
Certo dia esqueceu-se de existir;
correu devagar, devagarinho
observou o voar de um passarinho,
algo confusa, no entanto calrividente...
Com uma ligeira mágoa magoada
mas com felicidade borbulhante
despediu-se de um pesadelo:
A vida não se escolhe,
a vida é o que cada um colhe!!!
Mais tarde, vivia para voar cada vez mais alto
usava as suas verdes asas com amor,
e pela primeira vez na vida, foi feliz.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.