Ninguém diria, quando, naquele tempo, com o seu ar de pessoa letrada (que o era e ainda é) e porte distinto, de barba negra bem aparada, costumava aparecer lá pela oficina do meu pai com o intuito de o cumprimentar na breve visita de um fim de semana fugidio por entre aulas que dava na faculdade onde era professor e mais um congresso ou outro encontro qualquer no estrangeiro, que lhe ocupava a vida por completo. Ninguém diria, dizia eu ali em cima, que haveria de chegar o dia em que todo aquele saber, toda aquela cultura, distinção e respeito que lhe era devido, nada mais significava e se alguém que por ele passasse na rua sem saber quem era, talvez até pensasse tratar-se de um pobre coitado qualquer, de um sem abrigo a quem a sorte nunca tivera dado qualquer tipo de atenção. Até a dignidade parece tê-lo abandonado à mercê da sua solidão...
Será que o valor de alguém se pode medir pela aparência? É que, por vezes, a aparência pode enganar bastante!