"Nunca publiquei obra de terceiros, mas esta fez-se oportuna demais!"
Malandro na Eleição
Era uma vez um malandro
Que fugiu da detenção
Em tempos longes, mofados
De roubo e depravação
De malandragem finória
Daria até outra história
Não fosse a convocatória
Duma bendita eleição:
É que o malandro Moleza
Como era conhecido
Se escondeu num caminhão
Pra mode não ser detido.
E deu-se então uma fuga
De grande sabedoria
Pois tinha sido traçada
Com toda geometria:
Fugia ali de carona
Por debaixo duma lona
Por sobre a carroceria.
E já no fim da viagem
Quando o caminhão parava
Moleza foi espiar
Mais ou meno onde é que tava.
Ficou então espantado
Sem muita compreensão
Pois o caminhão parava
No meio duma multidão.
A multidão se empurrava
Com festa e reboliço
Afinal, ali chegava
O palanque do comício
De onde os home ia falar
E pra Moleza escapar
Ia ser um estrupiço.
Com pouco mais foi subindo
Aquelas arturidade
Pra mode falar pro povo
De suas capacidade.
E por debaixo da lona
O malandro observou
A tal da politicagem
Por detrás dos bastidor.
Pra sua grande surpresa
Viu esperança acesa:
A política lhe chamou:
Ouviu um homem falando
Com a voz de Senador:
– Hoje vai ser moleza
Digo a você com certeza
Já temos dez orador.
Escutou um esquerdista
E agitador sindicá:
– Nós exigimo Moleza
Pro setor industriá!
Ouviu depois uma dama
Com vozeirão de artista
Era líder feminista
E dos Direito das Mulé
Que dizia com brabeza:
– Os home só quer Moleza
Mas nós mulé também quer!!
Esse magote de gente
Usava da esperteza
Em nome da capitá
E também da redondeza.
Uns falava abaixadinho
Mas demonstravam franqueza.
De tudo não se sabia
Mas lá no fundo se via
Que só queria Moleza.
Ouvindo aquele chamado
De tamanha envergadura
Moleza viu liberdade
No lugar da captura
No mei da fuga acuada
Findava sendo lançada
A sua candidatura.
Pra mode sair bonito
No pape de orador
Moleza foi se alembrando
Do que era sabedor:
Aproveitou sua fama
De ser grande atirador
E se lançou: Pistolão
De todos os eleitor.
O cartaz era uma pistola
Sobre título eleitorá
E uma frase que dizia:
Ou você dá voto a mim
Ou então vai se lascar.
E pegou o microfone
Com a maior desenrolança
Falou de roubo, de jogo
De traficança e matança
Partiu no mei três partido
Partiu depois no comprido
Dobrou e fez uma trança.
Fez de forma democrática
Um acordo partidário
Concorda quem é medroso
Discorda quem é otário
Assim tornou-se prefeito
Seu vice não foi eleito
Pois faleceu dum disparo.
Pra começar o governo
Criou logo um estatuto
Onde o produto do roubo
E o roubo do produto
Ganhava o mesmo valor
Pois a ordem dos trator
Não altera o viaduto.
Devolveu os objeto
De quem já tinha roubado
Deu maconha e cocaína
Pro eleitor viciado
Empregou a mulherada
Dos marido que matou
Pagou o bicho roubado
De cem mil apostador
Findou cercando o currá
De apoio eleitorá
E se fez governador.
(Jessier Quirino)
"Não é a política que transforma o homem em ladrão; É o seu voto, que elege o ladrão, e o transforma em político."
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