Que me perdoem os céticos da nostalgia,
mas hoje, aqui e agora apetece-me simplesmente
recuar no tempo...
E, da memória, rebuscar velhas lembranças
que me são queridas!!
Bem sei que o que passou, passou,
pouco me importa essa filosofia de vida,
interessa-me sim e porque me satisfaz a alma,
sentir-me no tempo da puberdade,
de inocentes vontades,
mas simultaneamente ardorosas,
na veemência do desejo e da paixão
e deixar-me vaguear pelos caminhos
da minha adolescência, quiçá, retraída...
Cerro os olhos e levo-me pelas tardes serenas
das matinées domingueiras,
e vejo a imagem daquela garota linda,
de cabelos pretos, tez morena,
doce olhar que me incendiava o coração
com o brilho dos seus negros olhos,
e me embevecia na contemplação do seu caminhar,
plena da graça da mais bela gazela!
De repente, a minha alma contrai-se
pela tristeza que a envolve,
na lembrança do beijo que não surgiu,
nem do abraço que se fez tímido,
pela coragem entorpecida...
E do amor que rapidamente nascia,
se tornou vertiginosamente moribundo,
pela ausência de um querer destemido,
amordaçado pela inibição da vontade,
num paradoxal querer e não poder!
José Carlos Moutinho