É difícil bordar sorrisos
No pano-cru da tua ausência.
Amaldiçoo esta realidade que as leis da física não me sabem explicar,
O tempo encurta quando estamos juntos,
Estendem-se na imensidão do espaço,
Entre estrelas, galáxias, buracos negros ou simplesmente poeira cósmica,
Quando estás longe.
Queria dizer-te como é difícil olhar esta rua deserta,
Sem sentir os teus beijo nas manhãs mais nostálgicas.
Desejo afagar os teus cabelos,
Vou tentando adivinhar o som da tua voz
Entre os pregões, as vozes sussurradas,
O restolho dos passos apressados,
O piar das gaivotas que ficam em terra
Quando a neblina acasala com o Tejo.
A noite sempre foi o meu refugio,
Mas transformou-se agora em desalento,
Sobre o meu peito, apenas habita o vazio
No lugar onde a tua cabeça descansou.
Eu queria ter-te dito:
Fica comigo esta noite.
Mas não ficarás comigo esta noite,
Nem ficarás num qualquer dia
Dos dias seguintes.
Tento escalar com os dedos em sangue
A pedras graníticas dos muros de silêncio
Que tu ergueste paulatinamente.
Os muros assim erguidos alimentam os musgos
E segregam a cor e o odor das flores.
Incertezas quem não as têm?
Eu sei que nunca fui um dilema de fábulas de encantar,
E mais que um charlatão,
Sinto-me um actor que faz das ilusões pantomimas.
Amanhã, quando me olhar de novo ao espelho,
Sei que não me irei espantar
Ao descobrir que já esqueci o teu nome.
E sem nome,
Não haverá mais memórias.