Eu roubei esses versos
Como quem rouba pão
Com a mão urgente
Com urgência no coração
Eu contei histórias
Inventei vitórias
Como quem tem preguiça
Como quem faz justiça
Com as próprias mãos
Eu roubei quase tudo que eu tenho
Só pra chamar a atenção
E, quando cheguei em casa
Vi que lá morava um ladrão
Eu perdi quase tudo que eu tinha
A paz
A paciência
A urgência que me levava pela mão
Uma noite interminável
Numa cela escura
Sentido
Senhores
Censores sem poder de censura
O ruído dos motores
Numa sala de torturas
Senhoras e senhores
Censores sem talento sensorial
Nunca mais saiu da minha boca
O gosto amargo da palavra traição
Nunca mais saiu da minha boca
Nenhum elogio a nenhuma paixão
Uma noite mal dormida
Um país em maus lençóis
Sem sono
Sem censura
100% de nada não é nada:
É muito pouco
Sem sono
Sem censura
100% de nada não é nada:
É muito pouco
Não fui eu
não foi você
nem foi a máquina de escrever
que matou a poesia
não foram os Deuses
nem foi a morte de Deus
não foi o jabá da academia.
que matou a poesia...
façamos silêncio pra ouvir a última poesia
a última palavra é a mãe de todo o silêncio
façamos silêncio para ouvir o último suspiro
descanse em paz a mãe de todas as batalhas
a última palavra é a mãe de todo o silêncio
descanse em paz, dê o último suspiro
façamos silêncio para ouvir o último poema.
autor: Humberto Gessinger