Tempo de voo
(para as gaivotas que partiram...)
O gosto salgado do mar
A fuga das palavras sobre as ondas
Os lábios secos de ilusão
O tropeço no pronome possessivo
A regência de um verbo desgarrado,
em um barco à deriva
O voo das gaivotas
para longe dos limos apodrecidos
os rochedos acinzentaram
e a música calou-se
presas a uma ilha sem habitantes
o desespero das libélulas
as asas pregadas na cortina da noite
barulho estridente dos sinos no ar
que mais parecem tambores de guerra
ou martelos de uma sentença
tempo de voo
o vendaval revirando o oceano anil
cansado, triste e morno
escurecido...anunciando temporal
a solidão da nuvem angustiada
que já vai chorar
derramando suas lágrimas
chuva de lamentos e dúvidas
e uma saudade insistente
das gaivotas que partiram