E em nome da tua ausência
rasguei tantas ilusões ...
rasguei o dia e a noite,
rasguei as águas do mar,
rasguei a Vida e a Morte,
até o Coração de minha Mãe!
E vivi dia-após-dia,
ano-após-ano,
estação-contra-estação!
E da tua ausência,
só o vasto, o nada,
o ensejo de ansiar ser teu desejo!
Só esta ilusão eu não rasguei,
ideia tão teimosa, paranóica,
um destino mentiroso, que inventei,
imagem habitual, teu retrato,
em moldura obsessiva, tão fatal,
numa parede do meu quarto!
Chega já de lágrimas amargas nesse espaço,
meu Coração ficou fechado
na rigidez da pedra desse quarto!
Loucura ... ânsia ... devaneio,
à solta entre quatro paredes brancas,
no quarto da tua ausência!
... ausência fria, melancólica,
mais dura que a Poesia ...
Mas essa ausência não é mais que uma fantasia,
ausência-de-mim que me asfixia,
desajuste cruel, peso-de-cada-dia!
Margem por definir que me define,
Poeta-frio numa fria-nostalgia
que perdido se encontra, nessa exacta fantasia!
Ricardo Louro
num café da Rua do Carmo
no Chiado de Lisboa
Ricardo Maria Louro