O poeta que comigo partilhou horas de incerteza,
Momentos de alegria,
Desespero e desprezo,
Abandonou-se à sedução do suicídio e morreu,
E com ele morre a minha utopia.
Esta pilha de poemas que agora ateio,
Transformar-se-á nas cinzas do poeta,
Que definhou ao ver a verdade consumida na mentira.
Agora morto e frio,
Sem discurso fúnebre,
De pouco valerá, lançar sobre a sua urna,
Num batuque seco, num eco de assombro,
A sinceridade da verdade tardia,
A terra continuará a ser fecunda.
Recolho as lágrimas nos seus olhos secos.
Esta morte, no meu corpo que envelhece,
Deixou em forma de cicatriz uma lápide:
"Aqui viveu... um poeta depenado de musas e metáforas,
Que um dia se imaginou nas lombadas dos livros,
Esquecido como muitos,
Na poeira das livrarias..."
Deveria eu esperar de ti poeta a verdade,
Se eu mesmo me tenho vestido de mentira?
Agora, que o meu poeta se suicidou,
Nunca mais escreverei poesia!