"Porque hoje é sábado"
Vinícius de Moraes
Entro na sala e vejo o poeta.
Juntos erguemos nossos copos
e brindamos saúdes antigas.
Algumas tão amargas.
Tiro uma lua do meu casaco.
O poeta fuma
e eu também, como se cumpríssemos a um ritual secular.
Cedo demais
para beber e fumar tanto assim.
O poeta se ajeita na poltrona e ri.
Vinícius não morreu - concluo.
Hoje, não.
Hoje Vinícius não deve morrer,
ainda que me custe um soneto
Ainda...
A palavra me assusta,
mas o poeta não deve morrer hoje.
Não pode.
Vai ficar aqui comigo.
Hoje não é dado ao poeta o direito de morrer.
Hoje, não.
Porque hoje é sábado.
-
Júlio Saraiva