“Se souberes, aspira o odor das palavras e sente a paz que nasce no tempo dos silêncios “ (Sao Gonçalves)
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Se todas as palavras nos amaciassem a dor com aquele aroma que as caracteriza, enquanto palavras sentidas, aquele sentido único a domar todos os sentidos e a admoestar todas as vicissitudes que nos levam por vezes a sair de órbita, todos os silêncios teriam a paz que os nossos sentidos merecem. No entanto, há palavras que são ruídos a mais para os meus ouvidos, e há silêncios que trazem com eles todas as palavras sentidas e amadurecidas pelo tempo.
- Quero que todas elas me digam a verdade e não me sigam a vontade.
- Quero que todas elas saciam este meu desejo de viajar por elas, e com elas por todos os sentidos únicos.
- Quero-as assim frescas como a água que bebo pela manhã (este líquido transparente a limpar-me os pontos negros pelas poeiras acumuladas ao longo do dia).
- Quero-as todas como quem quer seguir-lhe os trilhos e saltitar de pedra em pedra pelos montes em busca de rosmaninho – esse perfume que abunda nos mais altos cumes, onde todos querem ir mas poucos conseguem sentir, cheirar, ou ceifar esse aroma quente que brota da terra e sacia todos os montes possíveis, aqueles que nossos olhos vêm e os nossos braços alcançam.
- Quero-as todas a cantar pela manhã, um hino a todos os feitores de palavras – não àqueles que as usam para de seguida caírem no desuso da sua própria palavra, mas todos os bem aventurados que as têm porque sempre foram aventureiros na descoberta do seu próprio mundo, onde as palavras são um meio para chegarem a todos os sentidos que os movem num sentido único.
Se todas as palavras me conduzissem por caminhos novos e me mostrassem que há muito mais além do seu sentido único…
Sinto-as assim, tal vibração a inundar-me os sentidos todos; os únicos e os compostos de todas as matérias gordas que se entregam ao regime de emagrecimento por nada, principalmente se esse nada for uma substância anafada a engrossar todas as letras, para depois caírem em desuso por serem só matéria orgânica e nada mais.