Queria voltar a ser menino,
De calção curto, desajeitado,
E as nádegas a saltitar,
Com um passo pequenino e tropeço,
Correr, cair, levantar e cair de novo,
E de novo levantar para correr ao teu encontro.
Tu sentada na areia húmida,
Peito miúdo, desnudado,
Calção rosa, perna cruzada,
Totós nos cabelos,
Sorriso traquino,
Cabeça a dançar
A trotear-me uma canção.
Esperavas por mim,
Rir-te-ias do meu andar palhaço,
Eu com um balde de plástico na mão,
Pesado com toda a água do oceano,
Ajoelhado na tua frente,
Tu e eu, com as nossas mãos
Construiríamos um castelo de areia.
E nele não haveria a ponte do tempo,
Nem as margens das nossas idades
Separadas pelas águas atrozes do rio do tempo.
Transporto no silêncio do meu peito
Esse castelo que hoje sei ser a fortaleza
Onde guardo e hasteio o nosso amor.
E pergunto às nuvens que passam no silêncio do céu
Porque não me foi permitido esperar por ti?
Porque cheguei eu primeiro e não chegámos ao mesmo tempo?
Queria arregaçar as mangas ao tempo,
Fazer do teu tempo o meu tempo,
Queria voltar a ser menino,
Ao teu lado fazer de novo o meu caminho...
O teu caminho...
O nosso caminho...