Vou semear o silêncio nos meus lábios,
E olhar os sinos difusos dos campanários
Que badalam angústias de barcos naufragados.
Pergunto aos pássaros mortos nas grades dos cemitérios,
Se este meu caminhar não terá despertado em ti tantas duvidas,
Agora que me faço à estrada
Depois de ter submergido do teu poço
Onde devagar entrei.
Tenho no meu alforge, o doce paladar dos teus lábios,
A manta suave da tua pele
O cheiro das flores campestres do teu corpo.
Não me tentes descortinar ou compreender
Quando a minha silhueta se perde nas pernas entre abertas
Das madeiras do banco do jardim.
Não é justo, que perdida a guerra,
Que desertado do campo dos mortos infindáveis,
Me erga em estátua de soldado desconhecido
No centro do jardim.
Aqui, o meu suor é o orvalho da erva retardada.
Hoje eu sei, pior que os jardins proibidos,
São os jardins que perdemos nas mãos entrelaçadas.
O sol da manhã afunda
e retalha as rugas do meu rosto.
Vou ao fundo do lago,
Escondo-me entra as carpas vermelhas,
Para que ninguém, nem mesmo tu,
Encontre uma réstia do meu sorriso.
Amanhã, quando pela manhã percorreres este jardim,
Estou certo, folhas secas iram adejar aos teus pés.
Sem saberes, no entanto, não serão folhas,
Mas sim, estes meus poemas que me atrevo a escrever,
Para logo de seguida os rasgar
E os dar a comer ao vento.
Já cresce a flor do silêncio no segredo dos meus lábios.
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