Embalo a planície da tua mão sobre a minha mão,
Percorro-a com o arado dos meus dedos,
Abro sulcos na terra virgem,
Lanço-lhe as sementes dos teus lábios,
Rego-os com uma lágrima que corre na nostalgia do sonho.
Um aroma a terra húmida, embriaga
O sentir da tua presença.
Trás a barca através da cortina de bruma,
Senhora da madrugada alva,
Minhas mãos no teu longo vestido,
Remam nas águas adormecidas
E deslocam remoinhos no teu corpo nu.
Desfruto nas margens do segredo,
O fruto azedo do teu âmago.
Deixa que a barca desça selvagem
O rio que nasce no vale dos teus seios,
Eu afogo-me no cheiro do teu ventre
No enlace das nossas tormentas,
Vem senhora da barca
Comigo molhar os pés,
Vem sentir as pedras frias dos meus olhos,
Beija-me estes lábios de vento.
Há um refúgio em ti
Onde lanço os meus segredos,
Não há ecos de receios nem traições.
A minha boca encontra a tua boca,
Entre risos e beijos.
Agarras esta torrente que esta prestes a chegar,
Dentro de ti descubro um mar,
Eu transformo-me na onda que invade a tua praia.
Por fim, adormeces, naufragas nos meus braços,
Um lençol de névoa cobre os nosso corpos exaustos,
Um doce odor do amor breve
Denuncia a nossa primavera.
Partes devagar,
Apenas pó e caminhos ficou,
Dizes que alguém descobriu um pôr-do-sol
Na planície verdejante do teu olhar,
E que uma espiga de trigo despontou no teu sorriso.
Sei agora, que esses brincos de urze
Que nas tuas orelhas coloquei,
São já mirradas flores castanhas.
Sabes,a cotovia não canta à sede.
Mas, eu desfaleço num cântico alentejano.