Chove em santiago - Como te posso prenunciar verso Sabendo que para além de verso Também foste senha? – Senha De ódios e sangue No palco das terras andinas As bombas arremataram pancadas de Molière Subiu o pano mais imundo E sobre o cenário ancestral das terras do Chile Surgiu um quadro mais negro e triste Que as terras áridas do Atacama. Á boca de cena Aviões sobrevieram no céu da cidade Apontaram metralhadoras e riscaram a noite com estrelas cadentes de morte Afoguentaram os condores no seu voo planante Um presidente É assassinado no subúrbio do seu gabinete Blindados rasgaram o asfalto Como se cidade fosse um campo E semearam cardos de sangue Soldados de fuzis fumegantes Na traição da madrugada Ocuparam as esquinas Mataram sindicalistas Políticos Anónimos trabalhadores Jovens Lançaram ao oceano presos políticos Roubaram às mães nos calabouços da tortura cobarde Os seus filhos E entregaram-nos aos verdugos dos seus pais os generais de Pinochet. Esmagaram os dedos a Vitor Jara Com a coronha da metralhadora feita machado No estádio de Santiago do Chile A cobardia não teve dimensão E ainda assim o assassinaram Porque não calou o seu canto. Um glaciar mais devastador e frio que os vividos na Patagónia Cobriu com um véu a pátria do Canto General de Neruda
Chove em Santiago – É poema madrigal de Lorca - O restolhar dos esbirros franquistas Mataram Federico pelas costas. Quem gritou viva la muerte Não teve coragem de olhar de frente A poesia dos teus olhos, Federico. Provavelmente, não chovia em Santiago No momento em que corpo de Federico tombou na terra, Ainda respirava o verde dos campos de Andaluzia, O coração ainda batia num canto gitano Quando o militar armado na sua majestosa covardia Puxou do revólver e sentenciou – "assim deve morrer um maricón!" –
Madrasta poesia que nos dá um verso Assim ligado à morte e ao ódio.