A Chuva
A Chuva começava a cair, interrompendo minha leitura, a tempos o céu estava nublado, branco com um borrão de nuvens negras e, para decorar mais aquele céu de filme de terror, corvos perambulavam entra as nuvens.
Fui tomar banho.
Abri o vitrô do banheiro, me molhava com a água quente e sentia o cheiro de chuva se misturando com o do sabonete, olhava para ela caindo por sobre o telhado do vizinho. Conversávamos.
A única coisa que me assustava eram os raios, que iluminavam o céu e as nuvens, caindo violentamente.
Depois do banho rápido, joguei por cima de minha pele quente uma blusa de manga cumprida, listrada de marrom escuro e branco gelo, de lã, a chuva continuava a cair, ela me inundava de paz, me acalmava, esperava aquela chuva a dias, ansiosamente.
Depois de me vestir fui ao quarto, abri a janela e fiquei observando a chuva por entre as grades, os raios ficavam cada vez mais violentos, o cheiro de terra molhada mais forte e o vento, mais frio. A chuva continuava a cair divinamente.
Mais aos poucos ela diminuía, acalmava-se, todo aquele céu nublado ia se desmanchando, iam aparecendo nuvens pequenas, como neblina, pareciam querer invadir as casas, os raios sumiam e o cheiro de terra molhada era substituído pelo cheiro de tinta de caneta…
A chuva já parara, o céu está em um azul bem claro que acabará em gelo no fim do horizonte, com nuvens crespas que se espalhavam como fumaça por todo ele.
Podia sentir o frescor da cor gelo do céu no vento, me tocar.
Deixei o quarto escuro e a janela iluminada, fui até a cozinha e abri a porta que dava acesso ao quintal, via as roupas no varal do pequeno rancho, o céu da vista do quintal ainda estava nublado mais também com um azul claro cremoso derramado por cima dos prédio distantes e um raio de nuvens laranjas eram devoradas pelas nuvens negras, elas pareciam brigar por espaço, elas eram o que havia sobrado do por do sol.
Via as nuvens evaporarem aos poucos, muito lentamente, feito um borrão, mais elas não chegavam a mim.
O céu ficava cada vez mais claro, cor de gelo, com apenas uma gota de azul, uma pequena estrela se sustentava em meio aquela confusão de nuvens e brilhava como se nada estivesse acontecendo, brilhava muito. Os brilhos dos raios de repente voltaram, algumas nuvens dançavam, se separando cada vez mais das outras, os passaros brincavam em meio a branquidão do céu.
O sino da Catedral de Santo Antônio bate, sete vezes, um grande número de pássaros rasgam o céu neste momento, o vento agora era mais frio, a noite era iluminada como uma noiva, com nuvens escuras como fumaça, minha visão era limitada para ver o final de seu divino vestido, a pequena estrela ganhava mais espaço para brilhar.
Noite branca, imprevisível e silenciosa, a chuva despencava, os pássaros rasgavam o céu, o vento era frio e a estrela brilhava só, na imensidão, para todo o sempre.
Amém.