VÉU
(Meu pai, compre uma pulseira da Jade para mim.”)
O corpo infanto
mexe-se em ondulações.
As mãos, o ventre, os pés.
Sob as canções da Bahia.
Sob as canções das Arábias.
O verão místico
Com cheiro de mar e chuva
Prepara o ocaso da infância.
Assim, o mundo traz
Um maravilhoso drama de domingo.
Suores e secreções que só as mulheres exalam
Sinalizam as mudanças.
Seios recém-brotados e ancas salientes
Dão recado de vida nova.
O rosto puro espinha novidades.
E muito antes da previsão
O sangue desce. Sem aviso.
E a menina possuída pela natureza
Chora de susto e prazer.
Comprem-me um véu, grita. Um grande véu.
Que me escondam as vergonhas.
Mas venham ouvir o meu grito de vitória.
Sou mulher!
No tempo de O Clone, a novela, a filha do homem vira mulher.