O pequeno 1, nascido num 1º de Janeiro de um ano qualquer, era, por natureza, um miúdo ladino, um indomável traquina. Tinha um irmão mais velho, de nome 10. Quando crescesse, iria ser um grande 1000, tal como o pai... mas por agora, limitava-se a tentar ser um 10, como o irmão. A mãe, a dona centena, prima de uma proeminente centena e meia, sempre dizia que aquele seu filho era uma potência em progressão. Certezas de mãe!
Lá na rua, onde a trupe dos naturais reinava, todos lhe chamavam "O único"... era claramente o chefe. O 2, o 3, o 4 e o 6 eram o seu estado maior, o seu séquito, o 5 era um choninha e os outros faziam sempre o que lhes era dito para fazer. Passavam o dia a somar asneiras e a dividir os resultados mas o que eles gostavam mesmo, era de implicar com o 3,1416, um daqueles intelectuais de óculos redondos, quico e uma barba de meter respeito a qualquer um... o Sr Professor 3,1416, para todos.
Na sua, ainda curta, existência, a escola era o seu maior problema. A cruz que lhe subtraía a paciência. E a matemática então!? Uma verdadeira situação aguda! Essa reduzia-o a uma dizima infinita. Não havia intervalo mais fechado que aquela disciplina... e o rapaz estava sempre fora dele. Detestava, solenemente, os grupos e grupóides que se juntavam e davam graxa à professora da disciplina, a Sra 20 Valores. Tinha mesmo um ódio quase visceral àquela gente só pelo facto de não fazerem parte do seu domínio. Que raiva!!! Mas paciência, a vida tem destas espinhas e ele sabia que era assim, que era com as contrariedades que se moldava o carácter. Lá estavam os sábios ensinamentos do avô 10000.
1, no fundo, era um puto feliz, um reguila sadio e verdadeiro em qualquer prova dos nove... o verdadeiro rei da sua rua e do recreio da escola. Um vencedor genuíno... talvez não com a matemática mas, mesmo assim, um vencedor.
Valdevinoxis
A boa convivência não é uma questão de tolerância.