O ócio que o teu corpo transpira
Revela um estado de espera eterna
Pelo herói amputado.
De mãos sujas na caverna
Onde a força da razão inspira.
Dizes não respirar políticas racionais
Mas o teu pensamento é engolido,
Enquanto clamas pela tua legitimidade,
Inacessível face ao torpe sorriso embutido
Na encardida cara sem sinais.
Na mais profunda das inércias do teu ser
Sustenta-se a auto-inocência prematura
A que chamas: Liberdade.
Invoca-la desconhecendo a sua frágil sutura,
Que por ilustre imbecilidade, deixas carecer.
Absorves loucamente doses de conformismo
De costas curvadas e vértebras rachadas.
À noite, lamentas toda a dor
Com lágrimas de suor algemadas
Aos olhos cegos de elitismo.
Observas a tua realidade sem ver,
Insistes em julgar sem consciência
Social, essencialmente.
Os que batalham a opressão, pela resistência
Por seus cérebros conscientes, tudo perceber.
Não és pessoa, socialmente, não existes
És dono de um coração suprimido,
Auto-censurado, auto-limitado.
Na sociedade de pensamento proibido
Não passas de puro ócio, alimento das elites.
Gonçalo Cardeira